terça-feira, 24 de abril de 2012

2- MODELOS E TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS NOS SISTEMAS EDUCATIVOS EUROPEUS





Nos últimos anos assistiu-se a um processo acelarado de integração económica supranacional, traduzindo-se num conjunto de mudanças que, no plano económico, se concretiza principalmente na liberalização dos movimentos de capitais, independentemente das fronteiras nacionais.
As condicionantes económicas da qual têm consequências de “arrastamento” para a perceção do futuro dos nossos sistemas educativos. Verificando-se alguns pontos focais relacionados com a educação: inadequação de sistemas educativos fundamentais soberba identitária e no autismo cultural, a escola foi um instrumento de seleção social com base na superioridade de uma cultura dominante em confronto com culturas minoritárias e as insuficiências de um modelo educativo ordenado em torno de objetivos estritamente cognitivos e intelectuais.
Hoje, as políticas e práticas de educação escolar definem-se como um conjunto vasto e coerente de políticas de educação/formação subordinadas aos imperativos da racionalidade económica dominante e, portanto, às exigências de “produtividade”, “competitividade” e “empregabilidade”. Esta emergência decorre do processo de globalização e conduz a encarar a educação como uma mercadoria, concebendo-a como um processo de produção para o mercado de trabalho de indivíduos “empregáveis”, “flexíveis”, “adaptáveis” e “competitivos” (Charlot, 2005, citado em Canário).
Na sequência da designada «estratégia de Lisboa» (projecto de transformar a economia europeia na “mais competitiva e moderna do mundo”), a Comissão Europeia produziu, em 2002, um documento de orientação estratégica com o título bem significativo de “Educação e Formação na Europa: sistemas diferentes, objectivos comuns para 2010”.Os objectivos enunciados neste documento são:  
·         Aquisição de competências adequadas a um novo tipo de mercado de trabalho e de espaço económico alargado;
·         Promoção da cidadania e da coesão social; 
·         Criação de novos ambientes de aprendizagem; 
·         Melhorias da eficácia da acção educativa, através do aperfeiçoamento da formação de educadores e de professores e da optimização da utilização de recursos.

2.1- SOCIEDADE DO FUTURO
A sociedade de futuro será bem diferente da atual e segundo Roberto Carneiro (1994), a sociedade do futuro deverá ser sustentada em três pilares:
·         sociedade do risco- perspetiva o espírito empreendedor, as formas de trabalho flexíveis e precárias pressupõem, um modelo de educação mais autónomo, menos homogéneo e mais diverso e plural;
·         sociedade ativa- como nova utopia do séc. XXI, na qual todos têm o direito a uma atividade e à participação nas tarefas de desenvolvimento da comunidade;
·         sociedade educativa- dominada pelo paradigma humano e da capitalização cultural ao invés da omnisciência económica.
Quanto ao tesouro da educação, nunca o encontraremos, porque sempre nos debateremos por novos paradigmas da educação, o ideal para a educação é incongruente pois pressupõe equilíbrio entre “humanidade e competição, entre tradição e modernidade, entre cultura de convivência e cultura de trabalho” (Carneiro, 1994).

2.2- ESCOLA DO FUTURO
Segundo Canário(1992), a partir doa anos 80 o estabelecimnto de ensino tem vindo a adquirir uma importância cada vez maior nos discursos e nas práticas educativas como resultado de tendências convergentes que se situam em três níveis distintos: o nível de investigação educacional, em que o estabecimento de ensino emerge como novo objeto de investigação;  o nível da mudaça educacional, em que a escola aparece como construção social com consequências para a ação e a interação entre os diferentes atores sociais em presença; e o nível da formação, em que se privilegia a formação centrada nos estabelecimentos de ensino.
Os paradigmas em que assentou a sociedade até finais do sec xx estão decadentes, e conduziram a problemas económicos, sociais e culturais. Na educação o paradigma educação e formação substitui o paradigma escola e escolar. Esta mudança é revelador de novas concepções educativas,  associadas a novas políticas e novas modalidades de regulação. A educação ganha novos desafios numa sociedade de futuro que proclama pela educabilidade, criatividade e eticidade (Carneiro, R. (1994)) na procura de soluções e na adaptabilidade há mudança. Num mundo globalizante os sistemas educativos encontram-se obsoletos, tornando-se necessário uma regulação das politicas educativas transnacional (Canário, R. (2006)). A nível europeu foram definidas as grandes linhas orientadoras que os sistemas educativos dos estados membros se devem orientar, centralizando o currículo no desenvolvimento de competências que tornem aptos os cidadãos para a vivencia na sociedade do conhecimento. Assim,  um conjunto de desafios são postos à prova às escolas do sec. XXI, onde proclama-se:
·         Competências chave para todos - é fundamental que o jovens tenham a perceção  da imprevisibilidade do seu percurso profissional. Segundo o quadro europeu de competências essenciais, todas as pessoas devem possuir um conjunto de competências para serem bem sucedidas, o conhecimento, as  competências e atitudes que servem o desenvolvimento pessoal, a inclusão social e a cidadania ativa e a empregabilidade;
·         Preparar os europeus para a aprendizagem ao longo da vida – os jovens e adultos deverão ser dotados de capacidade de continuar a aprender de diferentes maneiras durante toda a vida e adaptarem-se a situações de mudança de modo rápido e eficaz;
·         Contribuir para o crescimento económico sustentável – o sucesso escolar, ensino básico, é importante para as pessoas, porque tem forte impacto nas realizações educativas posteriores, importante para sociedade, estando ligado ao crescimento económico, melhorando a competetividade;
·         Reagir aos desafios que se colocam à nossas sociedades – as políticas de educação e formação poderão ter  impacto positivo nos resultados sociais e económicos, a importância de políticas edaquadas aos fins sociais;
·         Uma escola para todos – uma escola onde está implicita a igualdade de oportunidades, onde as práticas de sala de aula apoio os alunos com necessidades “especiais”, através de modelos de ensino, metodologias, constituição de grupos, etc.
·         Preparar os jovens europeus para uma cidadania activa – a participação dos jovens na democracia, a escola tem um papel crucial na preaparação dos jovens para o momento em que acuparão o seu lugar na sociedade;
·         Os professores, agentes da mudança – os professores são os mediadores entre o mundo em constante evolução e os alunos que estão prestes a integrá-lo;
·         Ajudar as comunidades escolares a desenvolver-se – os desafios serão termos de gestão escolar, enfatizando líderes escolares capazes implementar a mudança, facilitar a transparência da comunicação, estimular o pensamento e a inovação, motivar pessoal e alunos incutindo o espírito de aprendizagem ao longo da vida.
Aprender a viver juntos, aprender a aprender juntos e aprender a crescer juntos são as bases de um sistema educativo essencial de modo a responder aos desafios impostos, às necessidades da sociedade em evolução e integração do individuo no mundo de trabalho. Assim,  partindo da solidariedade e seguindo uma trajetória para encontar o equilibrio entre a humanidade e competição, tradição e modernidade, cultura de convivência e cultura de trabalho.
O papel do professor também é elemento de mudança, o velho modelo de fábrica em que o professor se assumia como o patrão, referido por Alvin e Toffler, já não tem espaço na atualidade.

Bibliografia:
Canário, R. – Nota de apresentação a Canário, R. (org.) Inovação e Projeto Educativo de Escola. Lisboa. EDUCA, 1992.
Canário, R. (2006). A Escola e  Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 1, pp.27-36 (Consultado em 04-2012 em http:sisifo.fpce.ul.pt.
Carneiro, R., A dinâmica de evolução dos sistemas educativos, in Colóquio: Educação e Sociedade, nº6. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Julho(1994)
Charlot, Bernard(2005). Relaçõ com o saber, formação de professores e globalização. Questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed.
COMISSÃO EUROPEIA, Emprego na Europa. Bruxelas: CE, DGV, 1994
Comissão das comunidades europeias (2007, junho). Documento de Trabalho dos Serviços da Comissão Escolas para o séc. XXI. Bruxelas 11.07.2007 SEC(2007)1009.

domingo, 1 de abril de 2012

1-    MUTAÇÕES SOCIAIS E SISTEMAS EDUCATIVOS

1.1.  SISTEMA

Sistema  é, segundo o autor Ramos, C. (2007), “sistema é um conjunto de elementos em interação dinâmica organizados em função de um fim”. Sociedade como um conjunto de elementos (sociais, económicos, politicos, sociais, educativos) em constante interação dinâmica, quando um elemento sofre alguma alteração esta vai refletir-se em todo o sistema. O ser humano integrado num sistema ou organização, na qual contem diferentes elementos da sociedade, tem-se desenvolvido intelectualmente, ao longo dos tempos, através das interações e relações sociais que tem vindo a estabelecer com os elementos da sua comunidade.
Com base na definição de sistema apresentado por Ramos.C (2007) podemos considerar o “ sistema educativo ” como o conjunto de estruturas e instituições educativas, que embora tenham características específicas, relacionam-se entre si e com o meio ambiente de forma integrada e dinâmica, combinando meios e recursos para a realização do objetivo comum, a de garantir a realização de um serviço educativo que corresponda às exigências e demandas da sociedade. Ou ainda, o sistema educativo é um conjunto de meios pela qual se concretiza o direito à educação, que se exprime pela garantia de uma permanente acção formativa orientada para favorecer o desenvolvimento global da personalidade, o progresso social e a democratização da sociedade.

1.2.  ASPECTOS CONTEXTUAIS DOS SISTEMAS EDUCATIVOS

A sociedade contemporânea tem sofrido algumas mutações e como os diferentes contextos estão interrelacionados, logo também se influenciam,  colocando novos desafios à Educação, uma vez que a Educação está relacionada com todas as evoluções sociais. “A Educação é produto de uma sociedade e ao mesmo tempo um determinante essencial para o futuro. Ramos.C (2007).
As várias transformações nas diferentes dimensões da sociedade apelam a novos de desafios, a capacidade de adaptação da Educação, o crescimento económico deverá centrar-se na Educação, tudo aquilo que cada individuo pode acrescentar a este pela quantidade e qualidade das qualificações (cada um tem de saber mais e melhor).
O crescimento económico de um país por si só, não conduz ao desenvolvimento humano, mas a educação deverá dotar a humanidade com as ferramentas que lhe permitirão controlar o seu próprio desenvolvimento. A educação deverá tornar a diversidade num fator positivo de coesão social, desenvolvimento humano e compreensão mútua.
Deste modo os sistemas educativos terão de priviligiar mais a imaginação, a criatividade, a comunicação e o trabalho de equipa , terão de ser flexíveis, ter capaciade de adaptação à mudança constante e aproveitar as potencialidades das tecnologias da comunicação e informação.
Os Sistemas educativos tem como principal missão a coesão social e o desenvolvimento humano, mas só conseguirá com a participação ativa da sociedade portuguesa. A educação, processo em constante mudança se não houver participação de todos os intervientes no desenvolvimento do sistema educativo, nomeadamente os professores, será um fracasso.
Segundo, Hargreaves (2003:41),  Grande parte deste ‘modernismo’ habitual dos nossos sistemas educativos mantém-se através dos profissionais e dos burocratas que olham para o próprio umbigo, para os costumes e para as certezas do seu próprio conhecimento especializado e das suas rotinas, em vez de olharem para o exterior, para as preocupações dos alunos, das famílias e das comunidades”.
O relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o séc. XXI (2006) apresenta a necessidade de uma escola aberta que integre a ideia de uma comunidade educativa com projeção social de forma a possibilitar a formação civica nos dominios da responsabilidade, da solidariedade, e do respeito pelos outros.
O sistema educativo  segundo a Lei nº46/86, lei de Bases do Sistema Educativo  define que: “O sistema educativo responde às necessidades resultantes da realidade social, contribuindo para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos individuos, incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e solidários e valorizando a dimensão humana do trabalho.”

1.3.  TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS DAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS

Atualmente, vivemos a era da sociedade do conhecimento. Posterior à sociedade industrial moderna, na qual as matérias-primas e o capital eram considerados como o principal factor de produção. Nesta sociedade de conhecimento a educação é pensada mais em termos do desenvolvimento do ser humano, do que em termos económicos, contrariando a tendência que se registou durante a 2ª metade do séc. XX. O crescimento económico tem-se revelado incapaz de garantir o crescimento humano mas a educação pode dar o seu contributo, dotando a humanidade de instrumentos que lhe permitam controlar o seu próprio desenvolvimento.
O rápido e crescente progresso tecnológico, a quantidade de informação e a velocidade a que a mesma se propaga exigem mais competências intelectuais e cognitivas por parte dos seres humanos, o que exige dos sistemas educativos, mais formação. Neste contexto os sistemas educativos desempenham um papel crucial no processo de dinâmica social. Habilitam o individuo para exercer os seus direitos e a observar os seus deveres de cidadania, consciencializando-o das vantagens da participação coletiva social.
Dar à educação uma perspetiva humanista, permitindo ao Homem interpretar o mundo que o rodeia, torna-lo cidadão ativo na tomada de decisões e prepará-lo para a ingressão no mundo laboral que exige cada vez mais flexibilidade e adaptabilidade, são alguns desafios que se colocam à educação.
 Jacques Delors, propõe uma educação para o sec. XXI direcionada para os quatro tipos fundamentais de educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros, aprender a ser, eleitos como os quatro pilares fundamentais da educação.

1.4.  INOVAÇÃO NO CONTEXTO DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

A sociedade atual, também chamada de "sociedade do conhecimento", mostra-nos que existem grandes mudanças em termos sociais económicos e produtivos. A ‘Sociedade do Conhecimento’ é  a sociedade que na qual  o conhecimento é o principal factor estratégico de riqueza e poder, tanto para as organizações quanto para os países. Nesta sociedade, a inovação tecnológica, o novo conhecimento, passa a ser um factor importante para a produtividade, competetividade e para o desenvolvimento económico dos países. Esta nova sociedade é impulsionada também por contínuas mudanças, algumas tecnológicas como a Internet e outras económico-sociais como a globalização.
'Sociedade da Informação' e 'Sociedade do Conhecimento' são por vezes usadas com o mesmo significado. Mas 'Sociedade de informação' pode ter uma definição que não envolve a vertente económica pelo menos se abordada dum ponto de vista apenas formal: "uma sociedade integrada por complexas redes de comunicação que rapidamente desenvolvem e trocam informação". Neste sentido, a 'Sociedade do Conhecimento' seria o motor económico duma determinada comunidade ou comunidades e a 'Sociedade da Informação' o veículo que potencia a partilha dessa informação.
Assim, o conhecimento como principal fator de produção interfere diretamente no desenvolvimento da sociedade.  Conhecimento é poder   e também responsabilidade. Deixou de deixou de ser opção, passou a ser uma necessidade para que se concretize o crescimento do Homem e das Sociedades. A Escola e os Sistemas Educativos são os meios pelos quais ocorrerá a mudança de mentalidades necessária à efectivação da inovação no contexto da sociedade de conhecimento.
A inovação dos sistemas tornou-se uma vantagem competitiva, tornando a sociedade mais capaz de dar resposta a melhores condições para inovar. As novas tecnologias permitem uma rapidez na informação e no crescimento de uma sociedade ou organização.
Mas, segundo Fucks (citado por Guillermo Antonio Dávila Calle & Edna Lucia Da Silva), “Na sociedaae de conhecimento, a própria inovação gera obsolência, novos produtos, novas máquinas e novas formas de produção elimina os bens antigos, originando uma rápida substituição de bens finais e das máquinas utilizadas para a sua produção”.
A utilização e os avanços das TIC favorecem a troca de informação e socialização do conhecimento, gerando inovação e desenvolvimento económico. Deste modo, ao governo, através dos sistemas edcuativos, são atríbuidos novos papéis: fomentar a pesquisa científica como processo criador do conhecimento e garantir a inclusão e o acesso da população às novas tecnologias.


Bibliografia: 
Ramos, C. - Tendências evolutivas das sociedades contemporâneas.
Ramos. C (2007)-Sobre o conceito de Sistema.
Ramos. C (2007) – Aspectos contextuais dos Sistemas Educativos.
Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro.
Lei nº 85/2009 de 27 de Agosto.
Jacques Delors (2000) Educação um tesouro a descobrir- relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o séc. XXI.