Nos últimos anos assistiu-se a um processo acelarado de integração económica supranacional, traduzindo-se num conjunto de mudanças que, no plano económico, se concretiza principalmente na liberalização dos movimentos de capitais, independentemente das fronteiras nacionais.
As condicionantes económicas da qual têm consequências de “arrastamento” para a perceção do futuro dos nossos sistemas educativos. Verificando-se alguns pontos focais relacionados com a educação: inadequação de sistemas educativos fundamentais soberba identitária e no autismo cultural, a escola foi um instrumento de seleção social com base na superioridade de uma cultura dominante em confronto com culturas minoritárias e as insuficiências de um modelo educativo ordenado em torno de objetivos estritamente cognitivos e intelectuais.
Hoje, as políticas e práticas de educação escolar definem-se como um conjunto vasto e coerente de políticas de educação/formação subordinadas aos imperativos da racionalidade económica dominante e, portanto, às exigências de “produtividade”, “competitividade” e “empregabilidade”. Esta emergência decorre do processo de globalização e conduz a encarar a educação como uma mercadoria, concebendo-a como um processo de produção para o mercado de trabalho de indivíduos “empregáveis”, “flexíveis”, “adaptáveis” e “competitivos” (Charlot, 2005, citado em Canário).
Na sequência da designada «estratégia de Lisboa» (projecto de transformar a economia europeia na “mais competitiva e moderna do mundo”), a Comissão Europeia produziu, em 2002, um documento de orientação estratégica com o título bem significativo de “Educação e Formação na Europa: sistemas diferentes, objectivos comuns para 2010”.Os objectivos enunciados neste documento são:
· Aquisição de competências adequadas a um novo tipo de mercado de trabalho e de espaço económico alargado;
· Promoção da cidadania e da coesão social;
· Criação de novos ambientes de aprendizagem;
· Melhorias da eficácia da acção educativa, através do aperfeiçoamento da formação de educadores e de professores e da optimização da utilização de recursos.
2.1- SOCIEDADE DO FUTURO
A sociedade de futuro será bem diferente da atual e segundo Roberto Carneiro (1994), a sociedade do futuro deverá ser sustentada em três pilares:
· sociedade do risco- perspetiva o espírito empreendedor, as formas de trabalho flexíveis e precárias pressupõem, um modelo de educação mais autónomo, menos homogéneo e mais diverso e plural;
· sociedade ativa- como nova utopia do séc. XXI, na qual todos têm o direito a uma atividade e à participação nas tarefas de desenvolvimento da comunidade;
· sociedade educativa- dominada pelo paradigma humano e da capitalização cultural ao invés da omnisciência económica.
Quanto ao tesouro da educação, nunca o encontraremos, porque sempre nos debateremos por novos paradigmas da educação, o ideal para a educação é incongruente pois pressupõe equilíbrio entre “humanidade e competição, entre tradição e modernidade, entre cultura de convivência e cultura de trabalho” (Carneiro, 1994).
2.2- ESCOLA DO FUTURO
Segundo Canário(1992), a partir doa anos 80 o estabelecimnto de ensino tem vindo a adquirir uma importância cada vez maior nos discursos e nas práticas educativas como resultado de tendências convergentes que se situam em três níveis distintos: o nível de investigação educacional, em que o estabecimento de ensino emerge como novo objeto de investigação; o nível da mudaça educacional, em que a escola aparece como construção social com consequências para a ação e a interação entre os diferentes atores sociais em presença; e o nível da formação, em que se privilegia a formação centrada nos estabelecimentos de ensino.
Os paradigmas em que assentou a sociedade até finais do sec xx estão decadentes, e conduziram a problemas económicos, sociais e culturais. Na educação o paradigma educação e formação substitui o paradigma escola e escolar. Esta mudança é revelador de novas concepções educativas, associadas a novas políticas e novas modalidades de regulação. A educação ganha novos desafios numa sociedade de futuro que proclama pela educabilidade, criatividade e eticidade (Carneiro, R. (1994)) na procura de soluções e na adaptabilidade há mudança. Num mundo globalizante os sistemas educativos encontram-se obsoletos, tornando-se necessário uma regulação das politicas educativas transnacional (Canário, R. (2006)). A nível europeu foram definidas as grandes linhas orientadoras que os sistemas educativos dos estados membros se devem orientar, centralizando o currículo no desenvolvimento de competências que tornem aptos os cidadãos para a vivencia na sociedade do conhecimento. Assim, um conjunto de desafios são postos à prova às escolas do sec. XXI, onde proclama-se:
· Competências chave para todos - é fundamental que o jovens tenham a perceção da imprevisibilidade do seu percurso profissional. Segundo o quadro europeu de competências essenciais, todas as pessoas devem possuir um conjunto de competências para serem bem sucedidas, o conhecimento, as competências e atitudes que servem o desenvolvimento pessoal, a inclusão social e a cidadania ativa e a empregabilidade;
· Preparar os europeus para a aprendizagem ao longo da vida – os jovens e adultos deverão ser dotados de capacidade de continuar a aprender de diferentes maneiras durante toda a vida e adaptarem-se a situações de mudança de modo rápido e eficaz;
· Contribuir para o crescimento económico sustentável – o sucesso escolar, ensino básico, é importante para as pessoas, porque tem forte impacto nas realizações educativas posteriores, importante para sociedade, estando ligado ao crescimento económico, melhorando a competetividade;
· Reagir aos desafios que se colocam à nossas sociedades – as políticas de educação e formação poderão ter impacto positivo nos resultados sociais e económicos, a importância de políticas edaquadas aos fins sociais;
· Uma escola para todos – uma escola onde está implicita a igualdade de oportunidades, onde as práticas de sala de aula apoio os alunos com necessidades “especiais”, através de modelos de ensino, metodologias, constituição de grupos, etc.
· Preparar os jovens europeus para uma cidadania activa – a participação dos jovens na democracia, a escola tem um papel crucial na preaparação dos jovens para o momento em que acuparão o seu lugar na sociedade;
· Os professores, agentes da mudança – os professores são os mediadores entre o mundo em constante evolução e os alunos que estão prestes a integrá-lo;
· Ajudar as comunidades escolares a desenvolver-se – os desafios serão termos de gestão escolar, enfatizando líderes escolares capazes implementar a mudança, facilitar a transparência da comunicação, estimular o pensamento e a inovação, motivar pessoal e alunos incutindo o espírito de aprendizagem ao longo da vida.
Aprender a viver juntos, aprender a aprender juntos e aprender a crescer juntos são as bases de um sistema educativo essencial de modo a responder aos desafios impostos, às necessidades da sociedade em evolução e integração do individuo no mundo de trabalho. Assim, partindo da solidariedade e seguindo uma trajetória para encontar o equilibrio entre a humanidade e competição, tradição e modernidade, cultura de convivência e cultura de trabalho.
O papel do professor também é elemento de mudança, o velho modelo de fábrica em que o professor se assumia como o patrão, referido por Alvin e Toffler, já não tem espaço na atualidade.
Bibliografia:
Canário, R. – Nota de apresentação a Canário, R. (org.) Inovação e Projeto Educativo de Escola. Lisboa. EDUCA, 1992.
Canário, R. (2006). A Escola e Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 1, pp.27-36 (Consultado em 04-2012 em http:sisifo.fpce.ul.pt.
Carneiro, R., A dinâmica de evolução dos sistemas educativos, in Colóquio: Educação e Sociedade, nº6. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Julho(1994)
Charlot, Bernard(2005). Relaçõ com o saber, formação de professores e globalização. Questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed.
COMISSÃO EUROPEIA, Emprego na Europa. Bruxelas: CE, DGV, 1994
Comissão das comunidades europeias (2007, junho). Documento de Trabalho dos Serviços da Comissão Escolas para o séc. XXI. Bruxelas 11.07.2007 SEC(2007)1009.